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Na porta do elevador

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A porta do elevador se abriu. Lá dentro, o senhor baixinho, meio rechonchudo, com seu sempre presente boné. Lá fora, eu, meio perdida a caminho de um quarto de hospital. Reconheci de imediato. Fiquei em dúvida se havia sido reconhecida. Perguntei.  A resposta veio na forma de sorriso e de um grande abraço. Chorei. Choramos. Depois de algum tempo, entramos juntos no quarto de hospital. Conversamos a lguns minutos, mãos dadas e um espanto de quem não se via há tantos anos. Ao me despedir, veio o choro. Meu. Dele. No dia seguinte era Natal. Saí para ir à missa e fui ao hospital novamente. Entrei no quarto. Ele dormia. Sentei-me em silêncio e permaneci ali, sem coragem de acordá-lo. Toquei seu rosto e me despedi. Era um Natal triste. Foi a última vez que vi meu tio Rinaldo, irmão de meu pai. Ele morou com a gente quando éramos pequenas. Aquele tio de quem a gente gosta, com quem ri. Depois que meu pai morreu, sempre que o via, eu me lembrava da imagem do meu pai. Talvez pelo sempre pr

Um senhor galante

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Hoje me aconteceu uma cena dessas de filme romântico. Fui almoçar no restaurante de sempre, quando de repente fui abordada por um homem extremamente educado, que perguntou sobre a pedra do meu colar. Respondi e ele retrucou que foi só uma desculpa para elogiar meus olhos, que combinavam com o colar.  Ele se sentou perto de mim e continuamos uma agradável conversa, cheia de risadas e galanteios. Um  homem culto, que estudou bastante, maduro e aparentemente com uma vida estável. Um grande galanteador, poeta e gentil. Ousado na medida certa. O ápice do almoço foi quando levantei-me para sair e ele deu a última cartada para conquistar meu coração.  A essa altura, as poucas pessoas no restaurante prestavam atenção, porque a conversa era bem agradável e eu não parava de dar risada. Quem conhece minha risada sabe o motivo. Ela não é nada discreta. Pois não é que fui pedida em casamento, em plena Nosso Pão, no meio de um monte de gente desconhecida? Claro que me senti lisonjeada, mas tiv

Tempo, tempo, mano velho...

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Já reparou como sempre encontramos tempo para ir a um velório? Damos um jeito na agenda, chegamos atrasados ao trabalho, dormimos mais tarde, acordamos mais cedo, cancelamos um encontro, adiamos uma reunião.  Sempre encontramos tempo quando já não dá mais tempo de chegar para aquela abraço, adiado há tempos pela pressão dos compromissos inadiáveis. Velórios, paradoxalmente, são lugares de encontro s. A gente abraça a família de quem se foi, demonstra solidariedade e amor. Mas também encontra pessoas que não vê faz tempo. Pessoas que adoramos, mas que não visitamos mais porque não há tempo. Em velório a gente se despede. Mas também se encontra. Amigos comuns de quem se foi. Amigos que normalmente se vêem pouco, que sofrem juntos nesse momento de dor. Mas que por instantes sentem o coração aquecidinho pelo abraço trocado, pela conversa segurando as mãos, pelo abraço apertado que traduz a saudade de quem só encontra tempo para os mortos. Quando o tempo já não tem tanta importância as